Viajando pelo Brasil

Pictorial travel around the Brazil
Memory of the mid-twentieth century - 1950 circa
Eucalol series 256 a 279
Texto extraído do verso das estampas
Desenhos do artista Percy Lau
Das coleções do Rio de Janeiro

Rio Grande do Norte (série 263)

pag 12


Salinas

A História do Sal no Rio Grande do Norte remonta ao período colonial, quando Pero Coelho de Souza registrou no início do século XVI, as salinas por ele vislumbradas em Amargoso, Guamaré, Macau e Areia Branca. Na mesma época, o intrépido Capitão-Mor do Rio Grande, Jerônimo de Albuquerque, doou duas salinas ao seus filhos Antônio e Matias, que se localizavam à quarenta léguas ao Norte de Natal. Na História do Brasil (1550- 1627) registrada por Frei Vicente do Salvador, se referiu às nossas salinas como "onde naturalmente se colhe o sal em tanta quantidade que podem carregar grandes embarcações todos os anos, porque assim como se tira um, se coalha e cresce continuamente outro".

“As salinas do Rio Grande do Norte, em número de 100 e localizadas entre a fóz do Mossoró e a Ponta dos Touros, constituem O maior centro da produção nacional. A água é depositada nos tanques e dos quais se obtem o sal que é levado à refinaria. A mais famosa de tôdas é, sem dúvida, a de Macau.”

 

Esta riqueza também deve ter engordado os olhos dos holandeses, que já nos espionavam antes da invasão, quando Adriano Verdonck relatou a existência de extensos depósitos naturais de sal alvíssimo, mais forte que o espanhol. Na segunda metade do século XVIII, o Rei de Portugal permitia o consumo do nosso sal apenas dentro das terras potiguares, visto que todo o sal consumido na corte era proveniente da Europa. Nos meandros dessa história, ocorreram muitas investidas pela posse ou pelo monopólio da produção salineira Potiguar.

A exportação do nosso sal para as outras Capitanias, só foi possível a partir de 1808, quando D. João VI publicou a Carta Régia, na qual ordenava a extração e o livre comércio dentro do reino, não impedindo, todavia, a importação do sal. A prosperidade só bateu em nossas portas depois da República. O monopólio salineiro fincava suas raízes, fruto de um dos últimos atos Imperiais, a "Concessão Roma", que permitia a implantação de salinas em terrenos desocupados. Tal monopólio, pela sua nocividade, durou apenas até 1914, nascendo então a livre concorrência.

Durante meio século, diversos problemas afligiram os nossos produtores, como o elevado custo de transporte, que encarecia o nosso produto frente ao sal importado, formando assim uma forte concorrência que ameaçava o sal Norte-rio-grandense. Grandes investimentos começaram à ser feitos com a entrada de capital estrangeiro só após 1964. As indústrias consumidoras de sal cresciam, e com isso era pertinente a modernização do parque salineiro, fazendo com que muitos produtores cedessem aos grupos estrangeiros. Com o incremento produtivo foi inaugurado em 1974, Terminal Salineiro, por onde o sal ainda hoje escoa, e ganha o mundo.

Hoje, o homem investiga as relações entre tal atividade e sua bióta, que em alguns casos formam verdadeiros mosáicos ecológicos, nos quais o ser humano faz parte direta, seja na mão de obra, seja na busca de alimentos que aí são gerados, ou indireta, se relacionando com o seu entorno, e não raro, tem-se praticado o turismo ecológico, tendo em vista as peculiaridades destes ambientes, a sua "beleza" cênica e a sua importância histórica-econômica para o Estado.

Fonte: http://www.salbrasil.com.br/historiadosal.php


Burros de carga

Durante séculos o jegue foi o animal de estimação oficial das famílias do sertão. Era o amigo, o companheiro de trabalho, o meio de transporte capaz de buscar água no riacho próximo e voltar sozinho. O patrimônio mais valioso que um pai podia deixar para o filho. Isso acabou. Hoje é possível comprar um jumento por R$ 1, enquanto uma galinha custa sete vezes mais. O jegue está tão fora de moda que seus donos agora o esquecem na beira de alguma estrada, onde acaba causando acidentes.



“No Rio Grande do Norte, nas estradas do sertão, nas vilas e cidades ainda é comum o transporte no lombo dos burros. É a “tropa”, isto é, um comboio formado por muitos animais e que tocados pelos tropeiros caminham grandes distâncias ajudando o trabalho do homem.”
 

O desprezo pelo jumento é resultado da urbanização das cidades do interior do Nordeste. Por mais pobre que seja a família, hoje se pode comprar uma moto com apenas R$ 60 mensais. Carros aposentados nas capitais, como Caravans, Brasílias e Chevettes, são negociados por R$ 400. Os veículos, por piores que sejam, são mais rápidos, agüentam mais peso e não empacam. 'Os jegues estão marchando na contramão da História', diz Geraldo de Macedo, secretário de Agricultura de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, que destacou um grupo de funcionários para recolher os jegues sem dono que vagam pela cidade. Na caatinga, o que era uma grande vantagem virou problema. 'O jumento sobrevive nas situações mais difíceis. As pessoas se desfazem dele, mas ele fica vadiando pela cidade e invade as lavouras.'

Não é a primeira vez que o bicho está ameaçado. Na década de 60, sua carne passou a ser exportada para a França e o Japão, onde é bastante apreciada, e o número de animais caiu pela metade em sete anos. 'Tivemos de fazer uma campanha de conscientização para evitar que eles acabassem', reclama Fernando Viana Nobre, presidente da Associação Brasileira de Criadores do Jumento Nordestino. Mas a atual crise é pior, explica outro defensor do animal, o padre cearense Antonio Batista Vieira, de 83 anos, autor do livro O Jumento, Nosso Irmão, que inspirou até música de Luiz Gonzaga. 'Antes as pessoas encontravam um jegue solto na rua e já queriam vender para o matadouro. Agora, eles ficam aí, abandonados. É muito triste.' Ele explica que os bichos já não servem nem para a exportação, porque o mercado globalizado agora compra jegues africanos, ainda mais baratos que os brasileiros.

O padre Vieira coordena, há 30 anos, o Clube Mundial dos Jumentos, que já recebeu apoio até da atriz e ecologista francesa Brigitte Bardot. 'A situação é triste porque tudo o que existe neste Nordeste foi feito no lombo do jumento', ecoa Viana. O poeta popular Patativa do Assaré homenageou o companheiro eqüídeo no poema 'Meu Caro Jumento'. Em Santana do Ipanema, em Alagoas, a estátua de um jumento na entrada da cidade homenageia o bicho que buscou água no poço local antes da chegada das bombas d'água. E Panelas, em Pernambuco, faz um festival que inclui corrida de jegues e uma cerimônia na qual o animal vencedor é coroado Rei da Cidade.
Para o antropólogo baiano Roberto Albergaria, o motivo para o abandono do jegue é mais simbólico que econômico. 'O fim do jumento é o fim do mundo agrário tradicional, com seu ritmo lento. Agora é o ritmo da moto, da cidade.' Prova disso é que acabou o tempo em que presidenciáveis como Luiz Inácio Lula da Silva se deixavam fotografar em cima de jumentos – o então candidato Fernando Henrique Cardoso chegou a criar polêmica em 1994, ao dizer que não havia montado num jegue, e sim num cavalo. Ao menos por enquanto, nenhum candidato encarou um lombo de burro.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT374780-1664,00.html


Barqueiros do Nordeste

Em determinadas regiões, a grandeza do São Francisco esconde e dissimula a gravidade da sua situação. Ele parece apenas, se ressentir um pouco das chuvas que não caíram com intensidade nas suas cabeceiras e aparenta uma normalidade falsa. Basta, entretanto, um mergulho na sua história, ou nos dados técnicos que não deixam duvidas, ou na conversa dos barqueiros que navegam em suas águas para que a realidade doa como um murro na cara.

Se as chuvas não chegarem com o mês de setembro, técnicos, estudiosos, barqueiros e lideres naturais de populações são unânimes: estagnará completamente a navegação no São Francisco e as conseqüências econômicas e sociais serão imprevisíveis.

O São Francisco começou a ser descoberto para a navegação a partir do século XVII. As canoas, chamadas igaras, desceram e subiram suas águas, ligando cidades, comerciando produtos e levando sinais dos centros mais civilizados para lugares perdidos, quase selvagens.



“Navegando pelos rios, os barqueiros vivem uma existência áspera. São êles que conduzem suas embarcações a remo o à vara, transportando cargas e passageiros durante vários dias.”

 

No século seguinte, a navegação no Rio São Francisco intensificou-se e surgiram as carrancas, grandes barcaças a velas, empurradas por grandes varas, apoiadas no peito dos barqueiros. Essas grandes barcaças lembram muito os barcos egípcios, com a cabeça de um leão, ou de um monstro qualquer esculpida na proa, "para espantar os maus espíritos".

No dia 4 de fevereiro de 1871, o primeiro vapor desceu de Pirapora a Juazeiro, fazendo os 1.370 quilômetros navegáveis do São Francisco. Vapor e carrancas conviveram atá quase recentemente, quando estas últimas desapareceram. Hoje, o vapor é soberano indiscutível no grande rio, e nem as lanchas modernas, muito mais rápidas que ele, incomodam sua posição.

Duas conseqüências maiores afloram da situação de seca do São Francisco, e se ligam, quase como resultado uma da outra: a paralisação quase total da navegação e o caos econômico, da produção estocada por falta de transporte. Ou transportada por preços até sete vezes maiores, ou apodrecendo as margens do rio.

Sessenta e oito barqueiros que fazem o comércio ambulante do São Francisco estão parados. Eles não conseguem mais frete de mercadorias porque não podem navegar. Não trocam mais produtos por outros produtos, como faziam antes, e não acharam, até agora, um meio de arranjar dinheiro para manter a família. São 68 homens desesperados, que estão vendo suas poucas economias minguando.

Fonte: http://72.14.203.104/search?q=cache:HEMMdpX7nZQJ:200.212.93.30/uploadNoblat/
upload/-90817d1_104c5159144_-7ffe.doc+barqueiros+do+nordeste&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=21

http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/7tipos/barque.html


Mulher lavando roupa

Era fácil identificar uma lavadeira. A visão de uma mulher descalça, com uma trouxa de roupa à cabeça, nos dias de segunda-feira, era trivial. Andava pelas ruas, saias meio arregaçadas, seguida a curta distância por um filho ou filha de pouca idade, carregando galhos secos miúdos ou pontas de madeiras de desmancho reunidos num feixe.



“As palmeiras são de grande utilidade às populações do Norte e do Nordeste. As donas de casa e as lavadeiras, na roça, nos sítios onde há palmeiras, utilizam-se das palmas em substituição às tinas e tanques para a lavagem das roupas e utensílios domésticos”

 

Esta era a mulher que levava roupa para a fonte, tipo que está gradativamente desaparecendo. Era a lavadeira, profissional de um dos mais duros e penosos trabalhos que se possa imaginar.

As lavadeiras podiam ser classificadas de várias formas: as que lavavam na casa da patroa e as que lavavam na fonte; as que lavavam por peça e as que lavavam por mês; as que apenas lavavam e as que lavavam e passavam, além das que lavavam e engomavam. Havia uma casta das especializadas que desempenhavam roupa de homem. Lavavam e engomavam exclusivamente punhos e colarinhos, peitilhos e camisas de peito duro, calça e coletes brancos, ternos e duques de brim.

Estas se recusavam sistematicamente a lavar e engomar fronhas, toalhas de mesa, guardanapos e paninhos. Da mesma forma que umas tantas que executavam peças masculinas, engomando e brunindo se negavam a lavar. Recebia tudo já limpo, lavado ao seu gosto, não admitindo encardidos nem manchas que pudessem desmerecer o seu engomado. Só queriam a tarefa de botar goma e meter o ferro.
 


Fonte: http://jangadabrasil.com.br/novembro/of31100a.htm


Base aérea de Natal

Na data de 11 de dezembro de 1941, pelo Decreto-Lei número 3.930, foram criadas as seis primeiras companhias de Infantaria da Aeronáutica. Essas companhias tinham como encargo, entre outros, fornecer os elementos que viriam assegurar a guarda, vigilância e defesa imediata das bases aéreas, aeródromos, campos de pousos e estabelecimentos da Aeronáutica. Desse modo foram criadas bases aéreas em Belém, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador e Galeão, esta no Rio de Janeiro. As bases estavam localizadas nas áreas de operações do teatro de guerra. Em cada uma delas foi instalada uma companhia de Infantaria. As companhias então criadas tinham um grande efetivo militar e eram bem equipadas com instrumentos bélicos para missão de guerra.



“A base aérea de Parnamirim, nos arredores de Natal, capital do Rio Grande do Norte é uma das mais estratégicas e aparelhadas do Mundo. Fundada por ocasião da última guerra mundial tornou-se a sentinela avançada do Brasil e continente sul-americano. Éla serve, hoje, à aviação civil e comercial.”
 

Ao longo desses anos, a Infantaria da Aeronáutica teve muitas manobras táticas. Não foram ações isoladas. Tinha que acompanhar as manobras e estratégias nas oitavas a direita ou oitavas a esquerda, marche, ou marche em frente do próprio Ministério da Aeronáutica. Na criação do seu próprio quadro, esperava-se que muitos voluntários dos quadros do Exército e da Marinha solicitassem transferência para a Infantaria, mas isso não ocorreu. Diante da ausência de candidatos, não foi possível preencher de imediato os efetivos das novas companhias. As bases aéreas que iam sediar aqueles efetivos estavam distribuídas entre o Norte, Nordeste e Sudeste, praticamente as áreas que estavam sendo comandadas pelo marechal Eduardo Gomes, à época no posto de brigadeiro.

Entre as primeiras atividades da Infantaria não se incluía somente a missão institucional de preservar equipamentos, instalações e pessoal de interesse da Aeronáutica, mas também os trabalhos, em parceria, com os militares americanos, no sentido de zelar pela segurança do pessoal e do material daquela Força Aérea, nas áreas de guerra, em nosso país. A história da Infantaria não era também só um registro de datas. Era muito mais um somatório de realizações desempenhadas, ao lado dos outros quadros, ao longo desses anos, visando à edificação de uma Aeronáutica justa, moderna e democrática.

Brasileiros e americanos vivíamos em harmonia, tínhamos até nossos bailes em finais de semana. Se no sábado os bailes eram só para os americanos, no domingo era for all. Reza a lenda nordestina que assim surgiu o nome de um dos mais famosos ritmos do país, o forró.

O filme For All - Trampolim da Vitória, produzido para retratar a ação da guerra no Nordeste mostra a presença marcante das bases aéreas da FAB na defesa da costa atlântica. Foi um esforço também para reproduzir a fascinação de uma cultura estrangeira (cerca de 5.000 norte-americanos) integrada à população do Brasil. Em especial no Nordeste e mais especificamente na capital Natal (40.000 habitantes), no Rio Grande do Norte, à época da 2ª Guerra Mundial, em 1942. (Jornal a Folha de São Paulo, 24/09/2001, Caderno F). Era em Natal, segundo a revista Life, na encruzilhada do mundo, que os aviões se reabasteciam e recebiam manutenção. Do Trampolim da Vitória, pulavam rumo à África, na guerra contra os submarinos inimigos e o fascismo.

A Base Aérea de Natal era a maior base militar da América do Sul e a mais estratégica na costa brasileira. Localizava-se num terreno de mais de 50 km de perímetro de extensão, possuía mais de 60 prédios, galpões, parques de manutenção de aeronaves, quatro pistas de pouso e decolagem. Contava ainda com cinemas, pousadas, hospital, grandes áreas de esportes e uma boa reserva de mata atlântica. Somava-se a esse complexo um grande conjunto residencial, para o pessoal envolvido na guerra.

E a Infantaria apostou-se por trás de todo aquele esforço de beligerância, na vigilância e na segurança da Base Aérea de Natal, a 25 km da capital potiguar, no Campo de Parnamirim, no seu grande esforço de guerra na busca da paz. Como quem sabe, mas querendo com veemência afirmar, que nem tudo parece desimportante diante do horror de um estado de guerra.

Fonte: http://www.reservaer.com.br/biblioteca/e-books/concursoV1/05.htm


Casa de sapê



“A casa de Sapé é a moradia típica do Interior. Chamam-na também de mucambo. Isolada no sertão, com seu této de palha, suas paredes forradas com fôlhas de palmeira e o terreiro na frente, tem sido cantada em prosa e verso nas modinhas expontâneas e rudes do sertanejo e na linguagem burilada e poética dos literatos das Capitais.”
 

O mucambo ou mocambo, a palhoça ou o tejupar, apresenta diferenças no Brasil mais de natureza regional, conforme o material empregado na sua contrução - folha de buriti, palha de coqueiro, palha de cana, capim, sapé, lata velha, pedaços de flandres ou de madeira, cipó ou prego - do que de tipo, numas regiões mais africano, noutras mais indígena. Deve-se notar do mucambo dos índios - o tejupar - feito de palha, que os primeiros cronistas acharam-no parecido com a cabana dos camponeses do Norte. Dessas cabanas algumas eram de colmo; outras construidas de madeira ou barro amassado (taipa). A coberta de colmo usou-se até o século XVIII. De modo que Portugal já nos trazia a tradição do mucambo.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mucambo

http://www.brasiloeste.com.br/foto/jalapao/227/casas-de-sape


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