Viajando pelo Brasil

Pictorial travel around the Brazil
Memory of the mid-twentieth century - 1950 circa
Eucalol series 256 a 279
Texto extraído do verso das estampas
Desenhos do artista Percy Lau
Das coleções do Rio de Janeiro

Alagoas (série 266)

 
pag 15


Canoa de Pescador

Mytella falcata, molusco lamelibranquido da família dos militídeos, lembra alto muito importante pelo seu nome difícil, complicado demais para o pescador. Por isso chama apenas de sururu e nada mais. Orgulhosamente sururu, tipicamente sururu nordestino de Alagoas. Tem caracteres próprios que o diferenciam de seus parentes, como o mexilhão e o bergigão. Longe dos aspectos técnicos, é o simples e principal habitante da Lagoa Mundau, que banha a capital alagoana.

O sururu prolifera nas partes mais rasas da lagoa, dentro da lama. Vive em colônias numerosas. Cresce, engorda e sobrevive de acordo com o teor de salinidade da água, que não deve ser nem muito doce, nem muito salgada. Ideal é entre 5 e 15%. Somente as águas da lagoa Mundau, oferecem essa condição. Por isso, ali habitam com grande abundância. E a espécie de maior volume de produção do estado: vai a quase 6 toneladas ao ano.

“Embora um dos menores, Alagoas é um dos Estados mais povoados. Suas lagoas são numerosas e nelas se pesca o “sururú”, prato típico da terra.”

 

Na exploração do sururu é desconhecido o mais insignificante processo moderno. Da pesca à distribuição, tudo se faz com muito primitivismo, como há cem anos. Aforas as canoas, tudo o mais independe de instrumentos. O trabalho começa antes do amanhecer.

Antes de surgir a madrugada, o pescador de sururu dirige-se, de canoa, ao ponto onde habita o molusco. Aproveita a maré baixa (a lagoa é ligada ao mar por um estreito canal) e inicia o ofício de cada dia. Mergulha repetidas vezes e retira da lama, com as próprias mãos, o sururu de capote. Pouco a pouco enche a canoa. Volta à praia para a lavagem. De geração em geração, do vovô ao netinho, a cena se repete: lagoa Mundaú, povoada de canoas pela madrugada de pesca, fervura e despinicamento, e venda do produto.

Sobre canoas de nomes estranhos — Palavira, Caatinga, Espalhado e outras — persiste uma civilização curiosa, diferente pelos extremos que a caracterizam: a beleza da rica paisagem e a subnutrição dos filhos, a família grudada ao incessante ritual de miséria pela sobrevivência. Nascem, crescem e morrem encerrados no mesmo ciclo do comer-para-viver e do trabalha-para-comer.

Fonte: http://jangadabrasil.com.br/revista/janeiro74/of74001b.asp


Mercado de Penedo

A Penedo alagoana pode até não ter o lado lúdico da Finlândia brasileira, mas a deslumbrante arquitetura das igrejas tira o fôlego dos visitantes, que se esforçam para não perder nenhum detalhe. Comece pelo Pelourinho, oficialmente chamada de Praça Barão de Penedo (ou Praça da Matriz, ou ainda da Catedral). Com tanto nome essa praça só poderia guardar inúmeros tesouros, a começar pelo templo mais importante do município, a Catedral de Nossa Senhora do Rosário. A religião divide o espaço com outros poderes, como a prefeitura municipal, ao lado da igreja, e a Câmara Municipal, ao lado direito, na antiga residência da família Tavares, datada do final do século XIX. Ainda compondo a arquitetura da praça, entre casarios dos séculos XVIII, XIX e XX, está o Oratório da Forca, cujo nome vem da lenda de que aquele templo seria o espaço onde os presos rezavam antes de morrer. Saindo do antigo Largo do Pelourinho, o turista pode seguir para a Igreja de Nossa Senhora da Corrente, construída em 1764.A santa não consta na iconografia católica, mas os fiéis rezam ao pé da imagem de que segurava uma corrente de ouro na mão, e que, por sinal, sumiu há muito tempo. Outra imagem que embeleza o templo é a estátua de São Jorge, e vale ainda observar os azulejos policromados, o retábulo da igreja, e os detalhes do teto.


“Penedo, à margem esquerda do S. Francisco, é uma cidade de tradições históricas. Foi fundada na época do domínio holandês. Penedo possue em desenvolvimento crescente, as indústrias de fiação, tecelagem, cortume, sabão; óleo; além de importante criação de gado. Seu mercado é dos mais fartos e variados.”
 

Outro espaço onde a visita é imperdível é o Mercado Publico, de beleza arquitetônica de linhas simétricas e portas avantajadas com arcos perfeitos. O comércio em Penedo também acontece no Pavilhão da Farinha, onde ficam os botecos que servem café da manhã e almoço típicos da região. Para enriquecer a viagem vale a parada no Museu do Paço Imperial, no Teatro 7 de Setembro, na Associação Comercial, na Casa de São Francisco e na Casa do Penedo, que mantém rico acervo da história da cidade, com destaque para a exposição de esculturas sacras e de peças que pertenceram ao Barão de Penedo, ao Bispo Dom Jonas Batinga, e à família que hospedou Dom Pedro II em sua passagem pela cidade. O tour por com a visita à Rua do Banheiro ou das Lavadeiras. Afinal, o contato com o nativo é a melhor parte de qualquer viagem. Além da conversa fiada com os moradores para conhecer um pouco das tradições populares da Penedo alagoana, da rua se tem uma bela paisagem com vista para o rio.

Fontes: http://www.correiodabahia.com.br/2005/05/01/noticia.asp?link=not000109649.xml
http://www.canalpenedo.com.br/fotos/displayimage.php?album=search&cat=0&pos=0


Navegação Fluvial

Ao rio São Francisco foi atribuído a partir de 1840, a função de “unidade nacional”. A apropriação emblemática do São Francisco partiu de um privilegiado grupo sóciopolítico, constituído de senhores escravocratas que andavam em torno de D. Pedro II. Uma vez no poder, defendiam a centralização monárquica, juntamente com os representantes das províncias banhadas e cortadas pelo rio São Francisco, como tão bem se verificou na leitura de seus discursos proferidos no Parlamento brasileiro.

“O Rio S. Francisco é o melhor caminho do interior do Brasil, com os seus 3.161 metros, ligando vilas, povoados, cidades e Estados. Entre as inúmeras quedas d’água que existem em seu curso, destaca-se a famosa cachoeira de Paulo Afonso destinada a cumprir importante missão no destino do Brasil”.

 

A fragilidade da unidade nacional objetivo tão caro à elite conservadora delimitou a busca de emblemas nacionais que a legitimassem. O rio São Francisco tornou-se emblema da nação porque, naquele momento de necessária união territorial, ele era o único genuinamente brasileiro, nascia e morria em nosso território, e principalmente, porque unia as províncias do Nordeste, ciosas do antigo estatuto colonial e por isso mesmo em constante conflito com o governo central, já que empenhavam a bandeira do federalismo.

A opção pelo São Francisco deveu-se ao fato de o rio ser originalmente brasileiro, com o seu curso de 3.161 km, cortando cinco regiões importantes do país – Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas -, várias delas em constante conflito com a política de centralização do governo imperial. Vale lembrar que, uma vez diminuídos os confrontos, mais precisamente a partir de 1848, a política imperial passou a ser de manutenção e sustentação da unidade territorial e nacional, donde a importância de forjar a função atribuída ao São Francisco como emblema da nação se fez maior.

Assim, no Império houve grande empenho no sentido de realização de atividades de reconhecimento, de descrição, de mapeamento, objetivando a incorporação dessa região são-franciscana ao todo do país, implementando a navegação fluvial a vapor, além de uma atividade taxionômica na construção de uma imagem de grandiosidade, de possibilidade econômica, de recursos naturais para a construção dessa nação.

Fonte: http://www.historiacartografia.com.ar/resumenes.html


Lampeão/Cangaceiro

Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, nasceu em 7 de julho de 1897 na pequena fazenda dos seus pais em Vila Bela, atual município de Serra Talhada, no estado de Pernambuco. Era o terceiro filho de uma família de oito irmãos.

Lampião desde criança demonstrou-se excelente vaqueiro. Cuidava do gado bovino, trabalhava com artesanato de couro e conduzia tropas de burros para comercializar na região da caatinga, lugar muito quente, com poucas chuvas e vegetação rala e espinhosa, no alto sertão de Pernambuco (chama-se Sertão as regiões interiores e distantes do litoral, onde reinava a lei dos mais fortes, os ricos proprietários de terras, que detinham o poder econômico, político e policial).

Em 1915, acusou um empregado do vizinho José Saturnino de roubar bodes de sua propriedade. Começou, então, uma rivalidade entre as duas famílias. Quatro anos depois, Virgulino e dois irmãos se tornaram bandidos. Matavam o gado do vizinho e assaltavam. Os irmãos Ferreira passaram a ser perseguidos pela polícia e fugiram da fazenda. A mãe de Virgulino morreu durante a fuga e, em seguida, num tiroteio, os policiais mataram seu pai. O jovem Virgulino jurou vingança.


Lampião formou o seu bando a princípio com dois irmãos, primos e amigos, cujos integrantes variavam entre 30 e 100 membros, e passou a atacar fazendas e pequenas cidades em cinco estados do Brasil, quase sempre a pé e às vezes montados a cavalo durante 20 anos, de 1918 a 1938.



“Cangaço, é a vida de bandoleiros e jagunços malfeitores do Interior do Brasil. Entre êles destacou-se a figura de Virgolino, conhecido como “Lampeão” e cujo nome era uma legenda de terror. Sua história é triste e deve ser esquecida. Resistindo à polícia, Lampeão foi morto no interior de Alagoas”.

 

Existem duas versões para o seu apelido. Dizem que, ao matar uma pessoa, o cano de seu rifle, em brasa, lembrava a luz de um lampião. Outros garantem que ele iluminou um ambiente com tiros para que um companheiro achasse um cigarro perdido no escuro.

Comparado a Robin Hood, Lampião roubava comerciantes e fazendeiros, sempre distribuindo parte do dinheiro com os mais pobres. No entanto, seus atos de crueldade lhe valeram a alcunha de "Rei do Cangaço". Para matar os inimigos, enfiava longos punhais entre a clavícula e o pescoço. Seu bando seqüestrava crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente. Antes de fuzilar um de seus próprios homens, obrigou-o a comer um quilo de sal. Assassinou um prisioneiro na frente da mulher, que implorava perdão. Lampião arrancou olhos, cortou orelhas e línguas, sem a menor piedade. Perseguido, viu três de seus irmãos morrerem em combate e foi ferido seis vezes.

Grande estrategista militar, Lampião sempre saía vencedor nas lutas com a polícia, pois atacava sempre de surpresa e fugia para esconderijos no meio da caatinga, onde acampavam por vários dias até o próximo ataque. Apesar de perseguido, Lampião e seu bando foram convocados para combater a Coluna Prestes, marcha de militares rebelados. O governo se juntou ao cangaceiro em 1926, lhe forneceu fardas e fuzis automáticos.
Em 1929, conheceu Maria Déa, a Maria Bonita, a linda mulher de um sapateiro chamado José Neném. Ela tinha 19 anos e se disse apaixonada pelo cangaceiro há muito tempo. Pediu para acompanhá-lo. Lampião concordou. Ela enrolou seu colchão e acenou um adeus para o incrédulo marido. Levou sete tiros e perdeu o olho direito.

O governo baiano ofereceu 50 contos de réis pela captura de Lampião em 1930. Era dinheiro suficiente para comprar seis carros de luxo.

Lampião morreu no dia 28 de julho de 1938, na Fazenda Angico, em Sergipe. Os trinta homens e cinco mulheres estavam começando a se levantar, quando foi vítima de uma emboscada de uma tropa de 48 policiais de Alagoas, comandada pelo tenente João Bezerra. O combate durou somente 10 minutos. Os policiais tinham a vantagem de quatro metralhadoras Hotkiss. Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos e tiveram suas cabeças cortadas. Maria foi degolada viva. Os outros conseguiram escapar.

O cangaço terminou em 1940, com a morte de Corisco, o "Diabo Loiro", o último sobrevivente do grupo comandando por Lampião.
 

Fonte: http://www.unificado.com.br/calendario/07/lampiao.htm


Cordão



“Em Maceió, capital de Alagoas, o frêvo é também a dança do povo, como o samba é tipicamente a dança do carioca. O carnaval de Alagoas é muito afamado e nele há cordões, de fantasias indígenas, maracatus, ranchos, etc. A gravura do verso nos mostra um cordão de fantasias indígenas com reis e rainhas dançando animadamente”.
 

Alagoas se configura no Estado que detém a maior diversidade de manifestações culturais populares, com destaque para os vinte e sete tipos de folguedos e danças populares que são fonte de referência para estudiosos e artistas de todo o país. Entre os quais o Pastoril figura como o mais conhecido e difundido.

Auto natalino, representa o nascimento de Jesus, composto por jornadas, canções e danças. Tal como os presépios, o pastoril originou-se nos autos portugueses antigos, guardando a estrutura dos Noéis de Provença, França. Diferente do presépio, não tem textos declamados e nem diálogos.

Há na formação do pastoril alagoano, os personagens da Mestra (cordão encarnado) Contra-mestra, (cordão azul) e a Diana (cordão do meio), com figurantes diversificados, como uma pastorinha, dois pastores, os anjos, a Borboleta e a Cigana.

Os espectadores, representados pelo povo, a comunicação com os personagens faz-se franca e informalmente, não só com palmas, mas com vaias e assobios, com dedos rasgando as bocas, piadas e ditos, apelidos e descomposturas.

Tudo isto enriquece o espetáculo de novos elementos de atração, dando-lhes nova motivação, reativando-o, recriando-o pela substituição de elementos socialmente menos válidos, por outros mais atuantes e mais condizentes com o gosto e os interesses momentâneos da comunidade para a qual ele exibe. Deste modo, revitaliza-se o espetáculo, permanecendo sempre dinâmico e atualizado, alimentando no espírito do povo e no dos próprios personagens um conteúdo emocional que tem no imprevisto e no suspense sua principal tônica.

Fontes: http://ideario.org.br/culturapopular/pastoril/pastoril.htm

http://www.fundaj.gov.br:8080/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.
NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=312&textCode=794&date=currentDate


Caatinga

A palavra caatinga, de origem tupi, significa mata branca. A razão para esta denominação reside no fato de apresentar-se a caatinga verde somente no inverno, a época das chuvas, de curta duração. No restante do ano a caatinga, inteiramente, ou parcialmente, sem folhas, apresenta-se clara; a vista penetra sem dificuldade até grande distância, perscrutando os caules esbranquiçados que na ausência da folhagem dão o tom claro a essa vegetação.


“No sertão, o viajante depara com grandes extensões de terra coberta por um mato ralo, árvores raquíticas, plantas cheias de espinhos. É a caatinga, terra batida pelo sol, sem sombra e sem água, difícil de atravessar nas viagens que só os sertanejos sabem fazer com a sua resistência privilegiada”.
 

É esse aspecto claro o que mais perdura, pois a seca persiste por muito mais tempo; em certas ocasiões pode prolongar-se por nove meses ou mais, e, em alguns casos, nada chove durante anos sucessivos. As temperaturas são, em geral, muito elevadas, as umidades relativas médias são baixas, e as precipitações pluviométricas médias anuais situam-se entre 250 e 500 mm aproximadamente. Há lugares em que chove menos. A duração da estação seca também é muito variável, em geral superior a 7 meses.

As chuvas ocorrem no inverno que não é a estação fria, mas é a menos quente. O verão é muito quente. O nordestino usa a palavra inverno não para indicar a época fria (que não existe), mas para designar o período das chuvas. É característica da caatinga não só a escassez, mas também a irregularidade das precipitações pluviais.

Os solos são de origem variável. Quanto ao seu potencial químico, são tidos, em geral, como férteis. Do ponto de vista físico, via de regra apresentam boa permeabilidade e são bem arejados. À superfície ocorrem, com freqüência, fragmentos de rochas, de tamanhos variáveis, testemunhando intenso trabalho de desagregação mecânica. Os rios raramente são perenes. Geralmente "cortam" (isto é, secam, interrompem seu curso) no verão, mesmo rios caudalosos no inverno. Nos vales a água pode-se acumular num lençol subterrâneo.

Os poços ou cacimbas construídos pelo homem para reservarem água para a estação seca contêm, em geral, água salobra, que, na maioria das vezes, não pode ser utilizada nem mesmo pelos animais. A água salobra também pode persistir durante a seca, no leito dos rios, em depressões chamadas caldeirões.

Fonte: http://www.zoologiarn.hpg.ig.com.br/caatinga.htm


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