Viajando pelo Brasil

Pictorial travel around the Brazil
Memory of the mid-twentieth century - 1950 circa
Eucalol series 256 a 279
Texto extraído do verso das estampas
Desenhos do artista Percy Lau
Das coleções do Rio de Janeiro

Mato Grosso (série 278)

 
pag 23


Boiadeiro

“ Mato Grosso tem na criação do gado sua maior riqueza. Na região da Vacaria as pastagens são muito ricas. O Estado de mato Grosso possue um rebanho bovino calculado em mais de três milhões de cabeças e seu rebanho eqüino é estimado em meio milhão.”

 

Em meados do século XX a pecuaria, começou a ser desenvolvida. O rebanho bovino se aprimorou com a produção de Nerole. O solo utilizado nos plantios, destaca-se rapidamente pelas derrubadas e queimadas e passa a constituir área de magra pastagem. Não há campos naturais e os que são abertos na mata, se ainda não esgotados pela lavoura, são facilmente invadidos pela capoeira.

O boiadeiro aparece como figura típica das regiões criadoras de gado. servindo de intermediário entre os fazendeiros criadores e os invernistas Ele nada mais é do que um comerciante de gado,. Constantemente viajando, esses homens penetravam até as zonas pastoris mais afastadas do Triangulo Mineiro, de Goiás e de Mato Grosso para comprar o gado diretamente do criador. Montados nos seus cavalos, voltavam tangendo enormes boiadas numa caminhada de centenas de quilômetros, em que levavam semanas e meses.

Era comum, no interior, observar as grandes boiadas descendo as estradas, no seu passo lento e vagaroso, para os mercados consumidores. Na frente, levando uma bandeira vermelha para avisar da aproximação dos animais, vai o boiadeiro. Mais dois ou três peões sequem atrás, vigiando com atenção o gado, para evitar que alguma rês se tresmalhe.


Fontes:
Enciclopedia Barsa, Enciclopaedia Britânica do Brasil publicações LTDA, 1988, Rio de Janeiro – São Paulo.


Índios nos Engenhos

Os Bororós foram, outrora, uma nação poderosa, cujo território abrangia os limites naturais dos rios Paraguai ao oeste, Araguaia ao leste, das Mortes ao norte e Taquari-Coxim ao sul, ocupando toda a faixa sul do atual estado de MT, conquistada pelos primeiros colonizadores da região. Nela tem-se hoje as maiores cidades desse estado: Cuiabá, Rondonópolis, Cáceres e Barra do Garças. Esses índios (junto a outros, certamente) estavam no meio da rota dos bandeirantes na ocupação do centro-oeste, o famoso "caminho das monções" e depois a estrada para Goiás.


“Os bororós, índios que habitam as margens do Jururu, em Mato Grosso tecem panos e redes com fibras de tucum e caroá e possuem pequena lavoura. Agora, ao contado com a civilização começam a trabalhar nos engenhos de açúcar que estão surgindo no grande Estado brasileiro.”
 

Esse povo forma uma das bases étnicas da atual população mato-grossense, resultado de relações interétnicas estabelecidas, sucessivamente, através da escravidão, do trabalho assalariado e dos casamentos com os agentes do colonialismo. Atualmente eles distribuem-se em oito aldeias de não mais de cem habitantes cada uma e, apesar de terem sido forçados a sedentarizar-se, conservam ainda caraterísticas nômades, apresentando uma população flutuante em ocasião de cerimônias, funerais, falta de víveres por escassez sazonal e, especialmente, como resultado de conflitos territoriais interétnicos e mesmo rixas familiares.

Há cinco aldeias ao longo da bacia do rio São Lourenço, tuteladas só pela Funai, e três na bacia do rio das Garças, onde atuam missionários salesianos. São tradicionalmente caçadores, pescadores e coletores, tendo uma agricultura rudimentar de poucas espécies. Vivem atualmente da comercialização de peixe, artesanato, prestação de serviços e, sobretudo, de aposentadorias rurais. Falam uma língua classificada tradicionalmente como Macro-jê, mas a juventude das áreas salesianas prefere o português. Suas aldeias são, via de regra, circulares, com as unidades residenciais dispostas em torno de uma grande casa central, a 'casa dos homens'.

Eles estão organizados em duas metades matrilineares e exogâmicas, com quatro clãs cada qual. Cada clã é 'proprietário' de certas plantas e animais, cores, cantos, danças, nomes, tradições, habilidades, segredos, utensílios, pinturas corporais e enfeite, especiais, propriedade essa que proporciona muita individualidade tanto às pessoas quanto às unidades sociais referidas.

A instituição Bororo por excelência é o funeral, executando longos e complexos rituais que duram, ainda hoje, até três meses, e que reordenam todo o universo de sociabilidade desse povo e a sua vida quotidiana. No funeral manifestam-se todas as tradições, a vida espiritual, artística, social, emocional e material.

Sua produção é considerada como "trabalho" do mais alto grau: produção de enfeites, danças, cantos, representações, lamentos, zunidores secretos, competições, refeições, e o longo processamento do cadáver até obter ossos limpos e enfeitados com penas coloridas para o enterro secundário.

Fonte:
http://www.aids.gov.br/final/biblioteca/alcool_indios/art10.htm


Caça à onça

A onça, seja ela pintada, malhada ou preta, é nociva aos criadores de gado bovino, eqüino ou lanígero. Este animal necessita buscar no rebanho, alimento para seu próprio sustento. Para este felino torna-se mais fácil abater um rês, uma égua, um carneiro do que preparar a tocaiar à anta, veados, lobos, ao jacaré e outros. Isto porque esses animais possuem em altíssimo grau, o instinto que os permite farejar o perigo, os tornando esquivos ao ataque da onça.

"Mato Grosso possui imensas florestas, cerradas, algumas indevassáveis e desconhecidas para o homem civilizado. Nas caçadas pela mata virgem o homem corre o risco do encontro com as onças cujas peles são bonitas, sem dúvida, mas que poucos sabem como são difíceis de obter."

 

Como necessita de um amplo território para sobreviver, pode "invadir" fazendas em busca de animais domésticos, bois, vacas, bezerros, ovelhas. Por esse motivo, locais onde é numerosa a presença de reses ou rebanhos, tendem a possuírem mais onças, despertando a ira dos fazendeiros que a matam sem piedade.

No Mato Grosso os trabalhadores das fazendas fazem dessa prática um exercício, caçando-as com as suas flechas apropriadas com lança de ponta de osso. A perseguição ao animal, é feita para acuá-lo. Os caçadores se refugiam atrás de moitas densas, e provocam-no até surgir uma oportunidade de acertá-lo, quase sempre mortalmente. Quando o gole falha, utiliza-se do salto para trás, que permite repetir a manobra.

Com o passar do tempo, para afastar a possibilidade de desastre, preferia os civilizados o emprego a arma de fogo, manobradas de maior distância. Certeiros na pontaria escolhiam a parte mais vulnerável da fera, quando possível entre os olhos, por onde penetra a bala, sem lhe estragar a pele, cujos defeitos lhe diminuem à cotação. Apesar de tão temida, foge da presença humana e mesmo nas histórias mais antigas, são raros os casos de ataque ao homem. Devido a prática da caça e, sobretudo pela rápida redução de seu habitat, esse felídeo, naturalmente raro, ainda encontra-se a beira da extinção em nosso país.

Fontes
http://www.saudeanimal.com.br/extinto16.htm
http://www.faficp.br/mhnatural/nosertao/noser/master3.htm


Navegação em M. Grosso

Durante a 1ª metade do século XX, a região do Mato Grosso foi caracterizada pelas atividades da pecuária bovina e da extração de erva-mate, nessa região dada a ausência de outras ferrovias e a imprestabilidade das estradas de rodagem, a navegação fluvial desempenhou, por algum tempo, um papel econômico relativamente importante.

Em fins de 1904, foi adquirido em Concepción, no Paraguai, o vapor Carmelita, destinado a servir como rebocador no serviço de travessia do gado. Esse vapor foi trazido, navegando pela bacia do Paraguai, até a vila de Aquidauana, onde foi parcialmente desmontado; daí, as partes foram transportadas em carretas de bois até o rio Anhanduizinho, já na bacia do Pardo.



“Mato Grosso é um Estado que possue vasta distribuição de rios que vão engrossas as águas do Prata e do Amazonas. A navegação a vapor, a vela, a remo e a vara cresce diariamente sendo que as duas ultimas são as mais comuns para o transporte de cargas e passageiros.”

 

Novamente montado, o barco começou em fins de maio de 1906 a navegar em direção ao Porto 15.

Enfim, devidamente providenciadas as balsas e currais, a travessia foi inaugurada em outubro de 1906. Nos anos iniciais do século XX voltava-se para o Alto Paraná os interesses da grande empresa concessionária da exploração dos ervais nativos do SMT (historicamente conhecida como Companhia Mate Laranjeira), A Companhia lançava mão de todos os meios de transporte fluvial; batelões, canoas, rebocadores, chatas, barcos movidos à lenha, óleo, gasolina e vapores mistos. Tais embarcações “penetravam os rios com condição aceitável de navegabilidade para, logo depois, entrarem em um afluente onde, cada curva e a galhada debruçada sobre as águas, significavam verdadeiro tormento”.

A empresa promoveu estudos com vistas a delinear os tipos mais apropriados de embarcações: Técnicos, de Buenos Aires, ouvindo os práticos da região, desenhavam os mais variados tipos de embarcação. Mesmo assim, em trechos de navegação mais difícil, pela pouca profundidade dos rios, era preciso lançar mão do molinete, um guincho cujo cabo de aço era amarrado em árvore resistente e que, posto em funcionamento, ia enrolando o cabo de aço, com o que arrastava a embarcação, num trabalho duríssimo.

Fonte:
http://www.abphe.org.br/congresso2003/Textos/Abphe_2003_65.pdf


Carro de Boi no Atoleiro

Ainda hoje, nas pequenas fazendas no interior de Mato grosso, aonde, pela ausência de boas estradas, a concorrência dos modernos e velozes veículos de carga não chegou, ele continua com sua morosidade característica, mas sempre utilíssimo, a desempenhar obscuramente a missão multissecular de transportar os produtos da terra dadivosa, dos campos de cultura para as sedes dos núcleos agrícolas.


“Também em Mato Grosso, um dos meios de transporte mais conhecido e usado no interior, é o clássico carro de bois. Andando vagarosamente, chiando, vão êles atravessando lamaçais e pântanos, palmilhando picadas e caminhos pedregosos sem se deterem e cumprindo airosamente sua missão.”
 

Diferentemente do que muitos possam pensar, o carro de bois, que se apresenta como uma peça bastante rústica, pode, se bem analisada ser considerado, uma verdadeira obra de engenharia ou de arte, onde a simetria e noções de cálculos são perfeitamente observadas. Todo de madeira, compõe-se de duas peças principais: o estrado e o conjunto roda-eixo. O estrado, gradeado ou de pranchas de madeira justapostas, é retangular, apresentando na parte dianteira um varal ou lança - o "cabeçalho". Em cada borda do estrado são fincadas varas roliças - os "fueiros" - que amparam lateralmente a carga. As rodas, em número de duas, geralmente maciças, por vezes com recortes semilunares, elípticos ou losangulares, são de madeira rija, altas e pesadas, protegidas por um aro de ferro quando rolam em terreno pedregoso. Estão solidamente encaixadas no eixo-móvel, que gira entre quatro peças de madeiras - os "cocões" – embutidas no estrado (duas de cada lado) que se apoia sobre eixo pelos "calços". Entre o calço e o eixo é colocado um indispensável suplemento - a cantadeira - untada com uma pasta de sebo e pó de carvão, para fazer o carro gemer, quando atritada durante a marcha.

O seu gemido característico, ligeiramente modulado, constitui motivo de orgulho para o correiro que não o dispensa nunca. O boi do carro é forte, musculoso e extremamente dócil. Dois são os seus condutores: o carreiro e o candieiro. O carro de boi e tem enriquecido grandemente o nosso folclore, fornecendo interessantes e variados temas para pitorescas e expressivas toadas sertanejas.

Fontes:
http://jangadabrasil.com.br/setembro13/pa13090a.htm
http://www.fructal.com.br/sistemas/livro/carroboi.shtml


Corumbá

Foi no dia 21 de setembro de 1778, portanto há 223 anos atrás, que se iniciou a história da ocupação e da fundação do arraial de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque, por ordem do Capitão General e engenheiro urbanista Luiz de Albuquerque de Mello e Cáceres, então Presidente da Província de Mato Grosso. Foi assim que nasceu Corumbá, cidade localizada na fronteira oeste do Estado de Mato Grosso do Sul, uma cidade colonial brasileira.

Corumbá nasceu de uma necessidade estratégica de ocupação da margem direita do Rio Paraguai, que estava sendo ameaçada pelos espanhóis do Prata, lentamente foi se transformando em povoado. Em 1861 foi instalada uma Alfândega no porto de Corumbá e em 1862 o povoado foi elevado a categoria de vila. Surgiram as ruas espaçosas e o comércio.


"Corumbá, uma das mais importantes cidades de Mato Grosso, foi fundada em 1774. É o porto mais importante do rio Paraguai, cuja navegação se distribui por várias regiões e é feita por navios brasileiros, argentinos e Paraguaios que fazem, assim, o intercâmbio por tôda a imensa região do alto Paraguai."
 

Essa região foi invadida e destruída em 1865 por Solano Lopez durante a Guerra do Paraguai (1864-1869). Durante a ocupação a navegação pelo rio Paraguai foi interrompida o que desarticulou o comércio local. A cidade foi destruída, abandonada a miséria, suas casas e depósitos foram saqueados e a população diminuída sofreu privações.

A ocupação pelo exército paraguaio se deu até 13 de junho de 1867, quando uma tropa vinda de Cuiabá chefiada pelo tenente-coronel Antônio Maria Coelho, consegui retomar a cidade. Superada as dificuldades da guerra, iniciou-se uma reorganização dos núcleos devastados e restabeleceu-se a navegação.
Com o fim da Guerra do Paraguai, Corumbá tornou-se muito importante para o desenvolvimento brasileiro e para a ocupação das fronteiras, quando o governo imperial concedeu isenções tributárias para importação e exportação de mercadorias pelo seu porto e é nesse momento que Corumbá vai ter seus dias de glória em termos socioeconômico e cultural-arquitetônico.

Foi através do Porto de Corumbá que chegou a riqueza, o progresso, os migrantes, o desenvolvimento e a cultura, principalmente da Europa e do Rio de Janeiro. O contato com a capital do Brasil, via Rio Paraguai e Bacia do Prata, através de embarcações modernas, trouxe para Corumbá uma certa condição especial de cidade, seja através da importação de bens e serviços ou através de intensa integração cultural.

Fonte:
http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc020/mc020.asp


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