O EX LIBRIS É O RETRATO DO SEU DONO |
Paulo
Bodmer
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De
todas as coleções de artes gráficas mais procuradas,
entre elas selos, cartões postais, etiquetas de caixas de fósforos
etc, cada uma mais linda que a outra, cheia de história, ensinamentos
e cultura, uma coisa podemos afirmar, que há mais arte na coleção
de Ex Libris.
Muitos não sabem, mas o Ex Libris é uma etiqueta gravada ou impressa, usualmente decorada, de dimensões variáveis, que se cola na primeira página interior da encadernação, para indicar a propriedade pessoal de livros. Esta "arte miniatura" representa, por assim dizer, um "título de propriedade". Dizem poraí, que o melhor amigo do homem é o cão. Outros acham que é o livro. Assim, quem quiser ter o seu próprio ex libris terá primeiro que imaginá-lo e só depois é que irá procurar o artista para desenhá-lo. O Ex Libris deverá ser o "retrato" do seu dono, isto é, a sua marca de posse consoante o seu viver. |
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Quanto
à origem, existem diversas opiniões de onde e quando surgiram
os Ex Libris, sendo que uns dizem ser o primeiro, o de Hildebrand Brandenburg
de Biberach, uma gravura em madeira, representando um anjo a segurar um
brazão de armas e colorido a mão por volta de 1480. Outros
afirmam ser o mais antigo o do rei da Boemia, o Ex Libris armoriado de
Georgis de Podebrady, falecido em 1471.
Parece
que no Brasil, o primeiro Ex Libris pertenceu a Manuel de Abreu Guimaraens,
que vivia na cidade de Sabará no século XVIII. Este Ex Libris,
com uma lira no centro,é uma alegoria às artes, ao comércio
e à indústria. Especial atenção aqui merece
o do Barão do Rio Branco (1), um Ex Libris paisagístico onde
se destaca, em primeiro plano, a pedra de Itapúca (Niterói)
e, ao fundo, o Corcovado, considerado não só um dos mais antigos
mas também, pelo fato de ter sido ele o primeiro colecionador deste
assunto entre nós. |
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O Ex Libris pode ser organizado com figuras, brazões, alegorias, paisagens (2) etc, e portanto, divididos em armoniados ou heráldicos (3), paisagísticos, alegóricos, musicais (4), religiosos, comuns, mistos e outros, sendo a sua impressão em xilogravura, água forte, offset, gravura em aço e talho doce, litografia ou zincografia etc. | |
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Lembramos ainda que, no Brasil, quem mais colaborou para o desenvolvimento do ex libris, que teve o seu apogeu no Rio de Janeiro, no período de 1940 a 1958, quando então começou o seu declínio junto com os livros, banidos das casas pela verticalização do lucro imobiliário, foram, a meu ver, Manuel Esteves (5), autor do único livro sobre o assunto, "O Ex Libris", da Editora Gráfica Laemmert, sendo que a 1ª edição de 1954 e a 2ª de 1956, ambas esgotadas, podem ser encontradas, de vez em quando, nos sebos do Rio e de São Paulo, por quem tiver muita sorte e, Alberto Lima (6), que desenhou mais de 300 ex libris para os colecionadores, entre eles o de Ary Pavão (7), o primeiro de todos, em 1925 e em estilo art-deco. |
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Após
prolongada pesquisa em revistas especializadas, catálogos e coleções
particulares, o médico e colecionador Paulo Berger publicou, em 1995,
o Catálogo de Ex Libris Brasileiros, com 76 páginas e a relação
de 2660 ex libris nacionais. Sete anos depois de permanente busca, em outubro
de 2002, o pesquisador lançou a 2ª edição do catálogo,
consideravelmente aumentada, com 150 páginas e quase 5000 ex libris
relacionados. Atualmente, apesar do Ex Libris se achar "incubado" no Brasil, é grande o interesse, que ele desperta em outras partes do mundo. |